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Paulicéia Desordenada - modernismo e poder

Carlos Pires e ENRIQUE MENEZES

Essa cidade que brotou súbita e inexplicavelmente,

como um colossal cogumelo depois da chuva.

Nicolau Sevcenko, Orfeu Extático na Metrópole

 

 

          No início do século XX, São Paulo crescia em um processo de urbanização acelerado e caótico, dado em linhas gerais pelo fim do escravismo, pela ausência de estratégias de integração social dos ex-escravizados, pelas disputas especulativas internacionais ligadas ao crescimento da economia do café e por afluxos gigantescos de imigrantes europeus. Dentro da roda-viva internacional, o estado de São Paulo – e, de modo geral, o Brasil – havia ficado com as paisagens monótonas e intermináveis de monocultura extensiva de commodities destinadas ao mercado externo. Como uma espécie de efeito colateral, a capital paulista se torna um enigmático e desordenado ponto de encontro entre gente muito diversa: caipiras que deixavam suas roças em busca de vida nova; negros ex-escravizados e seus descendentes buscando se integrar à cidade e resistir ao racismo, à discriminação e à violência policial; imigrantes pobres de diversos países que chegavam aos montes entre 1880 e 1927 (1) com promessas vagas de uma vida melhor, encontrando jornadas de trabalho desumanas a salários ínfimos (o salário mínimo só apareceu em 1940, e não era uma beleza). “A São Paulo moderna nasce de um motim dos fatos contra qualquer ética da prudência ou do bem-estar”. (2)

          Como resultado, os novos ritmos de crescimento da futura megalópole levaram uma massa imensa de empobrecidos de várias partes do mundo a se amontoar numa cidade com um projeto urbano precário para integrá-los. Cidade governada por poucas famílias podres de ricas de barões do café e especuladores, cujas fortunas enormes resultavam (resultam?), via de regra, da acumulação de dividendos do capital gerado por trabalho forçado e semi-forçado daqueles que se aglomeravam desordenadamente por um espaço problemático, de vocação escravista, agrária e de grande latifúndio.

          O contexto artístico não poderia deixar de estar ligado a essa situação, e uma diferença clara se colocava (se coloca?) entre a imensa quantidade de manifestações culturais produzidas por aquela gente desfavorecida pelo processo econômico, no interior e na capital – produção intimamente vinculada ao cotidiano, às festas, ao trabalho, à diversão, ao lamento, à brincadeira, aos desafios, às datas religiosas, às vezes sem motivo, e cuja expressão/estruturação coletiva transpassa e relativiza a ideia de autoria – e aquela produzida em muito menor quantidade por artistas “individualizados” urbanos com pretensões cosmopolitas, ou que desejavam se inserir no debate artístico internacional.

 

Modernistas entre trabalhadores e ricaços

          Numa certa altura, alguns artistas e intelectuais paulistanos, ainda que não deixassem de mirar o debate internacional (Paris em particular), passaram também a olhar para a situação brasileira buscando travar contato com seu “outro” social – que nesse caso não era o estrangeiro, mas seu conterrâneo. Iniciaram uma tentativa de costurar algum sentido social integrado entre os diversos pedaços resultantes da aventura um tanto irresponsável que era a São Paulo daquele momento. (3) Esses intelectuais-artistas auto-intitulados modernos, respondendo àquela roda-viva internacional, se propuseram a modelar esse estranho “tecido” nacional, que formaria uma colcha com retalhos de “cultura popular”, trabalhador pobre, elite cafeeira, imigrante, ex-escravizado, Jean Cocteau, negro, identidade nacional, poder, indígena, entre outros. 

          Surge aí uma colaboração entre modernistas e poderosos, que acenaram com pequenas cifras das fortunas multi-seculares acumuladas por algumas famílias tradicionais para viabilizar “viagens” em direção à massa imensa de trabalhadores empobrecidos. Nesse processo, algumas dessas famílias, muitas vezes nucleadas por antigos proprietários de escravos, passaram a considerar o “povo” como elemento importante na constituição de uma identidade nacional mais “moderna”, ou na costura dessa comunidade imaginada (4) que se estabelecia naquele momento. Nesse contexto de negociação ambígua entre uma vergonhosa tradição escravista e a vontade de um presente moderno, parte dessa elite passou a bancar aventuras da colaboração entre intelectuais, artistas e povo. Pontos de contato surgiram entre essas camadas tradicionalmente separadas da sociedade paulista.

          Mas qual foi a ligação entre a produção modernista e seus mecenas? E, por outro lado, qual a ligação dos modernistas com, digamos, as festas populares ou as produções artísticas de sentido coletivo? Complexas, como se pode imaginar. Se for verdade que a arte moderna europeia (na qual os paulistas se inspiravam) havia se constituído como crítica das instituições burguesas estabelecidas e da racionalidade instrumental – através do sonho, do nonsense, do choque, do africanismo, do susto, da sexualidade etc.; – nossos modernistas, em sua aliança ambígua com o poder, flertavam com o complicado jogo da modernização conservadora brasileira. No fim das contas, a primeira geração modernista de São Paulo abraçou a vontade contraditória de ser ao mesmo tempo revolucionária, crítica dos costumes tradicionais e aliada à burguesia paulista (conservadora e reacionária). Na formulação de Antonio Candido, “uma vanguarda político-cultural à sombra de uma situação oligárquica”. (5)

          Podemos notar algo dessas contradições ao refletir brevemente sobre dois espaços (sua arquitetura, mobiliário e obras) pertencentes a membros da elite cafeeira paulista que fomentaram as artes no início do século XX: 

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     (Figura 1. Salão nobre da Villa Kyrial. Freitas Valle. 1916).

 

          Na primeira imagem, um espaço da residência do principal patrono das artes de São Paulo das primeiras décadas, o mecenas (político do Partido Republicano Paulista e poeta simbolista que escrevia seus versos em francês) senador Freitas Valle. Nas reuniões que aconteciam nesse espaço da sua residência, conhecida como Villa Kyrial, Valle ocupa o assento mais alto central na foto e no espaço, o famoso trono de Nero, como era conhecido. (6) Na foto, pode-se notar as paredes preenchidas pelas vertentes artísticas da época cultivadas pelo mecenas e por uma arquitetura e decoração emblemáticas da Belle Époque paulistana.

          Já na década de 1920, alguns modernistas começaram a receber as regalias de Freitas Valle, antes exclusivas aos artistas mais tradicionais, ou mais próximos ao seu gosto. Entre essas regalias estava a bolsa do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo para estudo no exterior, o que aponta para a lenta e particular transformação da dinâmica cultural da cidade e do país, dinâmica que passa pela possibilidade de constituir uma trajetória de formação dos artistas enviando-os para estudos nos grandes centros culturais internacionais. Victor Brecheret foi o primeiro “modernista” a recebê-la em 1921 e Anita Malfatti a segunda, em 1923. A fotografia abaixo, do começo da década de 1920, mostra o modernista Mário de Andrade em uma reunião na Villa Kyrial:  

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     (Figura 2. Recepção ao escritor Elysio de Carvalho na Villa Kyrial, Freitas Valle (3° à esquerda) e Mário de Andrade (1° à direita). Início da década de 1920.)

 

          A imagem acima acontece em um reduto da “arte acadêmica”. (7) Mário de Andrade vai comentar que “foi da proteção desses salões que se alastrou pelo Brasil o espírito destruidor do movimento modernista." (8) O contraponto “moderno” à Villa Kyrial, indicativo da nova dicção importada de Paris, e também paulistano, é o Pavilhão que Dona Olívia Guedes Penteado (conhecida como a “baronesa do café”) construiu para encontros semanais com os modernistas:

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     (Figura 3. Pavilhão Moderno. D. Olivia Guedes Penteado. 1925).

 

          Mário de Andrade coloca entre as suas “maiores venturas admirar essa mulher excepcional que foi Dona Olívia Guedes Penteado. A sua discreção, o tato e a autoridade prodigiosos com que ela soube dirigir, manter, corrigir essa multidão heterogênea que se chegava a ela, atraída pelo seu prestígio, artistas, políticos, ricaços, cabotinos, foi incomparável.” (9) Mário havia feito em 1927 uma importante viagem acompanhado de Dona Olívia e suas filhas, cujo diário podemos ler em O turista aprendiz. Gilda de Mello e Souza, que estabeleceu a comparação entre esses dois espaços, (10) não deixa, entretanto, de pontuar o ritmo contraditório dessas transformações “modernizantes” que aconteciam em São Paulo e o esgarçamento resultante daquela tentativa de costura entre “retalhos” tão diversos:

 

Um detalhe, no entanto, demonstra que a conquista da modernidade ainda era recente e delicada, e que apesar de sua liberalidade a dona da casa continuava impondo aos novos amigos o código severo de seu mundo: o pavilhão fora construído no jardim, mantendo-se, por conseguinte, cautelosamente segregado do corpo da residência, e como recebia em dias precisos – sempre nas terças-feiras – excluía-os de um contato eventual com seus frequentadores costumeiros. Aliás, o tom das reuniões não era ditado, propriamente, pela presença dos modernistas, mas pela personalidade de D. Olívia, cuja autoridade todos acatavam com respeito. O salão acabava sendo, assim, mais importante para ela que para os convidados, pois lhe permitia, sem grande risco, brincar de vanguarda em seus jardins, como Maria Antonieta brincara de pastora no Petit Trianon. (11)

 

Mário de Andrade, modernismo e política

          Nessa toada, a década de 1920 era marcada também pela atuação intensa desse jovem alto, corpulento e de sorriso largo que se tornou uma figura central do movimento modernista: Mário de Andrade. O escritor procurava participar da vida da cidade, frequentando os diversos espaços em que aconteciam os salões da época, eventos artísticos, concertos musicais, óperas e toda sorte de eventos culturais que a cidade, em acelerada expansão, oferecia. Parte de São Paulo – a esse tempo ainda muito menor e mais provinciana do que a atual metrópole gigantesca – assistia, entre descrente e risonha, às ações desse modernista paulistano que andava interessado em forçar dimensões criativas e caminhos impensados na realidade cotidiana. Na famigerada Semana de 1922, Mário de Andrade leu alguns versos de Pauliceia desvairada, livro de poemas que seria lançado meses depois e que possui uma mistura irreverente de correntes artísticas modernas – surrealismo, futurismo, dadaísmo – e soluções teóricas inusitadas no famoso “Prefácio interessantíssimo”. Posição que o autor modula em suas obras seguintes, do estilo coloquial dos poemas de Losango cáqui à carga etnográfica de Clã do Jabuti, livros que prenunciam o choque de Macunaíma, em 1928, obra central da literatura brasileira, que costura, em uma prosa literária original, o principal da reflexão estética do autor. Ainda nesse mesmo ano de 1928, aconteceria, dentro da sua vocação de polígrafo, a publicação do Ensaio sobre a música brasileira, hoje um clássico da musicologia nacional e orientador de tantas realizações musicais posteriores.

          O espírito modernista dos anos 20, que causava espanto e risadas (o próprio Mário conta que não conseguia parar de gargalhar na exposição da pintora Anita Malfatti em 1917), já na virada para os anos 30 “se alastra pelo país e transforma em estado de espírito coletivo o que era pensamento de poucos; em realidade atuante o que era plano ideal; em gosto habitual o que parecia aberração de alguns”. Nesse momento, Mário começa a considerar mais seriamente que o trabalho do movimento modernista – ainda fragmentado em direções estéticas e políticas divergentes na década de 1920 – poderia se desdobrar também em novas possibilidades nos planos político e social.

          É possível acompanhar essa inflexão política no seu discurso em uma crônica publicada no jornal Diário Nacional em 17 de novembro de 1929, na qual afirma que a fundação (em 1926) do Partido Democrático decorria do “movimento de renovação brasileira, aberto faz mais ou menos dez anos.” (12) A medida dessa década de “renovação” parece incluir eventos como, entre outros, o fim da 1ª guerra mundial, a exposição de Anita Malfatti de 1917, a Semana de Arte Moderna, a Exposição Internacional do Centenário da Independência, a greve geral de 1917, a Revolução Russa, a fundação do Partido Comunista e, de maneira muito mais imediata para a fundação do Partido Democrático, a Revolução de julho de 1924 que “confirmou [...] o atraso político das elites". (13)

          O Partido Democrático havia surgido para fazer oposição ao acordo oligárquico conhecido como “República do café-com-leite” e, portanto, ao PRP (Partido Republicano Paulista). Apoiou, então, alguns anos depois, a chapa encabeçada por Getúlio Vargas contra o candidato paulista da situação, Júlio Prestes. Como se sabe, o partido da situação venceu o pleito, mas não durou, acusado de fraude eleitoral. A tomada do poder por Vargas em 1930 marcou, nesse processo, o início da assim chamada “Nova República”. Os acordos estabelecidos de então se desestruturavam, e o novo governo passou a imprimir novos ritmos aos discursos de efetivação dos valores democráticos e seguridade social, refletidos, entre outras coisas, na criação dos novos Ministérios do Trabalho, Indústria e Comércio e o Ministério da Educação e Saúde. No âmbito da reforma que estava sendo promovida por essas novas políticas, Mário de Andrade e Luciano Gallet chegam a preparar já em 1931 um Projeto de Reforma da Organização Didática do Instituto Nacional de Música. (14)

          Mas em pouco tempo surgiriam divergências entre os paulistas e o governo provisório. A nomeação do tenente pernambucano João Alberto Lins de Barros como interventor em São Paulo causou a fúria dos democráticos, que tinham esperanças de assumir o governo estadual. O chefe de polícia e democrático Vicente Rao, por exemplo, seria tirado apenas quarenta dias depois de assumir, acusado pelo governo de atuação “pautada por certo espírito de partidarismo que o tornava incompatível com o cargo”. Junto com ele sairiam outros membros do partido como Paulo Duarte e Carlos Morais de Andrade, o primeiro, amigo próximo, e o segundo, irmão de Mário de Andrade. As animosidades cresciam, e a oposição dos democráticos ao governo provisório levou à criação da Frente Única Paulista, que agora unia os então adversários (democráticos e republicanos) em favor da autonomia de São Paulo, visando tomar o governo provisório de Vargas. Em 23 de maio de 1932 (data que virou nome de avenida), o país assistia a uma grande manifestação organizada pelo movimento paulista, cujo confronto com os tenentistas resultou em mortos e feridos. Pouco tempo depois, em 9 de julho de 1932 (outro nome de avenida), tem início a chamada Revolução Constitucionalista, na qual os paulistas tentam assumir o controle do governo. Uma guerra civil violenta se desenvolve por meses, terminando com a derrota de São Paulo.

          O armistício assinado entre revoltosos paulistas e o governo Vargas reconhecia São Paulo como um Estado autônomo, desde que não voltasse a se insurgir, e embora vitorioso, o governo central entende a necessidade de atender a demandas paulistas: Vargas nomeia como interventor, em agosto de 1933, o “civil e paulista” Armando de Salles Oliveira, importante empresário, além de cunhado de Júlio de Mesquita Filho, diretor do jornal O Estado de São Paulo. Promulgada a Constituição de 1934 e negociada uma anistia aos revoltosos de 1932, Salles Oliveira elege-se, agora por meio da Assembleia constituinte, governador em abril de 1935.

          Membros ligados ao Partido Democrático vão compondo o governo de Salles Oliveira, entre eles alguns ligados ao movimento modernista. Ainda em 1934, o então interventor nomeava como prefeito da cidade de São Paulo o vereador Fábio da Silva Prado, sobrinho do conselheiro Antônio Prado, primeiro prefeito da cidade, que governara por 12 anos. Fábio Prado era casado com Renata Crespi, filha de Rodolfo Crespi, um dos mais importantes empresários do país ao lado de, e concorrendo com, Francesco Matarazzo. (15) O prefeito recém-nomeado, Fábio Prado, escolheu como seu chefe de gabinete Paulo Duarte, antigo redator-chefe do Estado de São Paulo que havia participado com Júlio de Mesquita Filho da criação e organização da Universidade de São Paulo.

          Paulo Duarte tinha larga trajetória de atuação política, tendo participado da campanha de Rui Barbosa para presidente em 1919, da revolta tenentista de 1924, da fundação do Partido Democrático em 1926, da redação do Diário Nacional e, também, da caravana de Vargas e de sua ida a São Paulo em 1930. Como muitos democráticos, passa a fazer oposição ao governo, e em 1931 participa da fundação da Liga de Defesa Paulista, defendendo o rompimento do Partido Democrático com o governo provisório e ajudando a organizar o levante paulista de 1932. Com a derrota é exilado, mas volta na interventoria de Salles Oliveira, tornando-se, então, chefe de gabinete do prefeito Fábio Prado em 1934 e deputado na Assembléia Constituinte estadual em 1935. É ele quem propõe ao prefeito a criação de um Departamento de Cultura na cidade de São Paulo – projeto que havia sido sonhado em uma roda de amigos entre o final dos anos 1920 e o começo dos 1930. (16)

 

O Departamento de Cultura

          Elide Rugai Bastos já comentou que a criação de um Departamento de Cultura em São Paulo marca a “liberação de um modelo de mecenato característico da política oligárquica. O próprio rompimento político leva à transformação: o Estado será o novo mecenas". (17) Paulo Duarte também descreve essa passagem em seu livro de memórias:

Mas cadê dinheiro? O nosso capital eram sonhos, mocidade e coragem. Havia quem conhecesse uns homens ricos de São Paulo, mas o homem rico não dá dinheiro pra essas loucuras. Quando muito deixa para a Santa Casa. Caridade espiritual, jamais. Que testamento pinchou legado para uma universidade ou para uma biblioteca? A nossa gente ainda está no paleolítico da caridade física. À vista de tantos argumentos, ficou decidido que um dia seríamos governo. Só para fazer tudo aquilo com dinheiro do governo. (18)

 

          O projeto do Departamento foi apresentado ao prefeito por Paulo Duarte tendo como exigência que o cargo de diretor fosse ocupado por aquele mesmo modernista e amigo próximo do solicitante, Mário de Andrade. Pedidos que foram atendidos em acordo com o governador Salles Oliveira, este também vinculado ao Partido Democrático e amigo íntimo de Paulo Duarte, “velha amizade” que se estabeleceu “na luta e no exílio". (19) O projeto desse grupo de amigos é interpretado por alguns analistas como

 

parte de uma ideia hegemônica, por meio do qual o estado de São Paulo, depois da derrota da Revolução de 1932, conseguiria, na visão dos que planejavam o Departamento de Cultura e as recém-criadas faculdades, conquistar e transformar o resto do país através da cultura e da educação. (20)

 

          Alguns historiadores e sociólogos pensam ter havido uma aposta reformista no âmbito educacional e cultural, como parte das políticas paulistas desde a prefeitura de Antônio da Silva Prado, que inclui a construção do Teatro Municipal (concluída em 1911), a organização do sistema educacional público feita na prefeitura de Washington Luís e a organização dos parques infantis realizada na gestão Anhaia Mello, que seguiam as bases de um projeto que Fernando Azevedo apresentou para a prefeitura em 1923. No governo de Armando de Salles Oliveira fora construído um prédio para a Biblioteca Pública Municipal, unidades escolares de ensino primário e secundário, a Faculdade de Filosofia, que começava a formar professores para o ensino público, e a própria Universidade de São Paulo. Nessa linha de interpretação, parece ter havido um esforço paulista de fazer com que o boom econômico da passagem do século fosse acompanhado da criação de instituições culturais que dessem uma identidade paulista ao processo, gerando uma alternativa à hegemonia cultural da capital federal. Na opinião de Carlos Sandroni, “a questão cultural esteve intimamente ligada à possibilidade de resgatar o papel hegemônico de São Paulo dentro da federação”. (21)

          Realizações da década de 30 como o Departamento de Cultura, a Escola Livre de Sociologia e Política e a Universidade de São Paulo teriam ganho impulso no contexto da reação paulista às sucessivas derrotas políticas. Isso se daria em boa medida por meio de uma recomposição da elite intelectual (e econômica) e da reabilitação do sentimento de amor próprio que tem como horizonte colocar São Paulo novamente em uma posição de destaque no país, como – para usar o jargão da época – a locomotiva da nação. A ideia descrita por Paulo Duarte era conduzir Armando de Salles Oliveira à presidência em 1938, tendo como carro-chefe uma plataforma forte de bem-estar social promovida por meio de instituições culturais que de fato funcionassem. O Departamento de Cultura foi pensado como etapa inicial e experimental desse projeto maior, que posteriormente seria aplicado como política nacional na forma de um “Instituto Brasileiro de Cultura”:

 

Nós sabíamos que o Departamento [de Cultura] era o germe do Instituto Brasileiro de Cultura. Primeiro, um Instituto Paulista, que Armando Sales no governo já nos garantira. Para isso o projeto do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico de São Paulo lá estava na Assembléia Legislativa (...) Depois, com Armando Sales na Presidência da República, seria o Instituto Brasileiro, uma grande fundação libertada da influência política, com sede no Rio, inicialmente instalados, além do de S. Paulo, paradigma, outros núcleos em Minas, no Rio Grande do Sul, na Bahia, em Pernambuco e no Ceará. Tivéramos uma grande ideia que Armando Sales aprovou: os Institutos de Cultura assistiriam com assiduidade todas as grandes cidades, com a colaboração da Universidade, porque, não comportando evidentemente essas cidades uma faculdade, teriam contato íntimo com esta, através de conferências, cursos, teatro, concertos etc. (22)

 

          Instalado o Departamento de Cultura, esse sentimento de reconstrução do orgulho paulista é, de fato, perceptível na fala do então prefeito Fábio Prado:

 

O Departamento de Cultura não podia deixar de ser bem recebido no São Paulo novo, no São Paulo pós-revolução, onde as iniciativas culturais se desenvolvem com o vigor das lavras na terra roxa. A universidade, recém-criada, aí estava florescente dando-nos um ambiente ensolarado de cultura. (…) transfundindo para as veias bandeirantes o sangue novo da cultura europeia (…) a USP precisava ter institutos colaboradores de sua obra formidável. (23)

 

          O discurso de seu primeiro diretor, Mário de Andrade, também parece estar afinado nesse tom:

 

Tudo é novo, e muito está apenas nascendo. São Paulo é uma cidade dum dia, mas já os seus caminhos vão e vêm. O Departamento de Cultura que tudo isto já está fazendo, com toda sua autonomia municipal, cresce e quer crescer como a flor, como o perfume irradiante doutra criação mais básica, a Universidade de São Paulo. E, sendo municipal, o Departamento de Cultura cresce e quer crescer, esculpido na forma do Brasil. (24)

 

          Para Antonio Candido, tratou-se de um momento inédito e radical: “não apenas a rotinização da cultura, mas a tentativa consciente de arrancá-la dos grupos privilegiados para transformá-la em fator de humanização da maioria, através de instituições planejadas”. Candido continua:

 

Nas sociedades de extrema desigualdade, o esforço dos governos esclarecidos e dos homens de boa vontade tenta remediar na medida do possível a falta de oportunidades culturais. Nesse rumo, a obra mais impressionante que conheço no Brasil foi a de Mário de Andrade no breve período em que chefiou o Departamento de Cultura da cidade de São Paulo, de 1935 a 1938. Pela primeira vez entre nós viu-se uma organização da cultura com vista ao público mais amplo possível. (25)

 

          A proposta do Departamento era, ainda que repleta de contradições, (26) avançada para o país, à medida que conectava a cultura às suas interfaces de lazer, esporte, assistência social, turismo, meio ambiente, planejamento, entre tantas outras vocações, contando para sua viabilização com fabulosos 10% do orçamento da prefeitura. Fundado por um ato municipal a 30 de maio de 1935, o Departamento de Cultura contou com as divisões de Expansão Cultural (chefiada por Mário de Andrade), Bibliotecas (Rubens Borba de Moraes), Educação e Recreios (Nicanor Miranda), Documentação Histórica e Social (Sérgio Milliet). Viria projetar e conduzir coisas como, entre muitas, parques infantis que contavam com educadores sanitários, pediatras, nutricionistas, instrutores de jogos e professores; programas de distribuição de leite para crianças; bibliotecas infantis, circulantes e populares de bairro; um restaurante público dedicado a receitas brasileiras; concursos de composição musical, roteiros de teatro e decoração proletária (!); estudos da conformação urbana de São Paulo; pesquisas sociais e etnográficas para detectar problemas de alimentação, moradia e educação; mapas folclóricos para localização de danças e culturas típicas, entre tantas outras iniciativas pioneiras. (27)

          Depois das experiências modernistas mais radicais da década de 20, estava se consolidando, nos anos 30, uma dimensão mais construtiva, engajada na tentativa de integrar o esgarçado tecido social paulista e nacional, numa visada que buscou ao mesmo tempo formar um conjunto estável, e em boa medida problemático, das “coisas brasileiras”. Ou ainda, na formulação de Mário: “é justo por esta data de 1930, que principia para a Inteligência brasileira uma fase mais calma, mais modesta e quotidiana, mais proletária, por assim dizer, de construção. À espera que um dia as outras formas sociais a imitem". (28) Em entrevista ao jornal, já como diretor do Departamento de Cultura, o escritor perguntava: “não será esse o mal maior do Brasil? Essa ausência de um “homem brasileiro”, de um ser uno e coletivo que persista dentro de todos nós e seja nossa unidade nacional? O Departamento não pode ficar indiferente a esse problema capital.” (29) Como solução, propunha “colher, colher cientificamente nossos costumes, nossas tradições populares, nossos caracteres raciais, esta deve ser a palavra de ordem dos nossos estudos etnográficos (...) enquanto o progresso e o internacionalismo não destroem os nossos costumes e as bases culturais da nossa gente”. (30)

          O processo de escolha e seleção que levaria à construção desse “ser uno e coletivo”, ou essa tentativa de chegar a um “homem brasileiro” como um padrão de base para a organização das políticas culturais, não deixa de ser uma empreitada que aos ouvidos atuais, ao menos alguns, soa como algo um tanto restritivo, ou pouco plural, ainda mais se considerarmos a rica cultura urbana que se formava na cidade de São Paulo no atrito com os imigrantes. Isso, no entanto, permitiu que muitas manifestações culturais, principalmente de zonas rurais brasileiras, fossem registradas e documentadas. 

          É nesse contexto que a Divisão de Expansão Cultural projeta uma Discoteca Pública e uma Rádio-Escola. A ideia desses projetos sonoros ganha importância se lembrarmos que nesse início de século grande parte dos cidadãos brasileiros – e paulistas – não sabiam ler ou tinham leitura precária. Podemos acompanhar a luta pela instalação da Rádio-Escola e sua orientação em um ofício da Diretoria do Departamento, solicitando

 

A colocação definitiva, e não provisória, duma rede de alto-falantes, nos logradouros públicos da cidade. É justamente aos jardins que acodem as populações proletárias e de pequena burguesia, que dispõem de poucos meios para se divertir. É justamente a essas classes que a ação cultural da Rádio Escola terá de se dirigir com preferência, não só por serem as demais, passível de educação e sugestão, como por serem as menos providas de meios para se cultivar. Por todas estas razões, julga esta Diretoria, não só da maior utilidade, mas imprescindível à organização dum sistema irradiador público, que obrigue o povo a escutar a Rádio Escola, e permita ouvi-la aos que não têm rádios em casa. (31)

 

          Ao que parece, ao menos nesse momento, o discurso e o léxico do grupo de intelectuais do Departamento de Cultura se aproximava ao de uma social-democracia de tipo europeu, entendendo como uma das funções da política a de diminuir os estragos da roda-viva capitalista – cuja vocação é concentrar as riquezas e aumentar infinitamente a diferença entre pobres e ricos. Nicanor Miranda, por exemplo, chefe da divisão de Educação e Recreios, escrevia sobre como as ações de sua seção visavam a integração dos “adolescentes operários": 

Não serão os adolescentes operários os homens de amanhã, que bem ou mal integrados na sociedade constituirão a massa de trabalhadores da nação? Porque não integrá-los bem, proporcionando-lhes quanto antes, os meios e os recursos para que venham a ser profissionais aptos, cidadãos nobres e dignos das suas funções na coletividade? (32)

 

          Roberto Barbato Júnior diz que nesse momento o grupo de intelectuais buscou “organizar um amplo espectro de difusão cultural que minimizasse o aspecto de excludência imposto à população". (33) Adeptos de algo como uma “esquerda moderada”, (34) acreditaram que a política poderia cumprir a função de consertar os abismos sociais produzidos pela circulação do capital sem precisar depor seus agentes acumuladores, ou seja, sem depor a elite – sem desejar uma revolução. Em uma carta a Paulo Duarte, Mário de Andrade explica:

 

Num país como o nosso, em que a cultura infelizmente não é ainda uma necessidade quotidiana de ser, está se aguçando com violência dolorosa o contraste entre uma pequena elite que realmente se cultiva e um povo abichornado em seu rude corpo. Há que forçar um maior entendimento mútuo, um maior nivelamento geral de cultura, que, sem destruir a elite, a torne mais acessível a todos, e em consequência lhe dê uma validade verdadeiramente funcional. Está claro, pois, que o nivelamento não poderá consistir em cortar o tope ensolarado das elites, mas em provocar com atividade o erguimento das partes que estão na sombra, pondo-as em condição de receber mais luz. Tarefa que compete aos governos. (35)

 

A dor que vive aqui

          O desenrolar da década de 30 viria mostrar que a aposta naquele tipo de “esquerda moderada” não conseguiria operar nem o sonhado erguimento das partes que estavam na sombra e nem reduzir o contraste entre a elite e povo “abichornado". (36) O golpe de Vargas e a instalação de uma ditadura em 1937 redundou na demissão de Mário de Andrade do Departamento de Cultura, e viria deixar mais ou menos claro que, como já dizia o mestre Machado de Assis – em alemão! -, o Brasil continuava em boa medida estando mais para eine absolute Oligarchie, (37) e os valores democráticos e culturais se realizariam apenas na medida em que fossem necessários para manter uma certa oligarquia no poder e uma parcela crescente do povo “abichornando-se”. Em 1939, Mário escrevia o conto “Briga das pastoras”, no qual o narrador (com um quê auto-referente) conta sua aventura “etnográfica” para assistir a um Pastoril:

Chegamos, e logo aquela gente pobre se arredou, dando lugar para os dois ricos. Num relance me arrependi de ter vindo. Era a coisa mais miserável, mais degradantemente desagradável que jamais vira em minha vida. Uma salinha pequeníssima, com as paredes arrimadas em mulheres e crianças que eram fantasmas de miséria, de onde fugia um calor de forno, com um cheiro repulsivo de sujeira e desgraça. Dessa desgraça horrível, humanamente desmoralizadora, de seres que nem sequer se imaginam desgraçados mais. (38)

 

          O escritor descreve literariamente como os performadores da cultura popular brasileira não haviam saído da sombra, seguiam abichornados, em ambiente repulsivo, miseráveis a ponto de brigar entre si por esmolas e roubar dinheiro colocado no presépio. Um povo tão pobre, tão afastado das garantias sociais mínimas, que vive em pânico, mendigando apoio paternal de qualquer “rico”, imolando-se uns aos outros por esmola e se arrastando numa triste miséria financeira e moral. 

Talvez a impressionante empreitada construtiva do Departamento de Cultura na gestão de Mário como seu diretor, entre 1935 e 1938, carregue algo de reativo – ou mesmo descompensado – em relação a esse deserto de instituições culturais e de garantias sociais mínimas do Brasil. Algo de galicismo a berrar nos desertos da América. Talvez por isso, depois de passar por essa experiência, Mário tenha se lembrado de incluir no diário da viagem de 1927 (que fizera junto a Dona Olívia Guedes Penteado) uma carta endereçada a uma “amiga judia comunista francesa”, Dina Dreyfus, que havia retornado à França depois de ter dado tantas contribuições ao Departamento de Cultura. Na carta, Mário escreve:

 

N’avez vous pas senti nos peurs américaines, et nos impossibles? [Não captou os nossos medos americanos e nossas impossibilidades?] O que é Hitler, Daladier, a impotência, a clarividência criminosa? Os vossos operários europeus? Eles não sofrem não, eles teorizam sobre o sofrimento. A dor, a imensa e sagrada dor do irreconciliável humano, sempre imaginei que ela viajara na primeira caravela de Colombo e vive aqui. Essa dor que não é de ser operário, que não é de ser intelectual, que independe de classes e de políticas, de aventureiros Hitlers e de covardes Chamberlains, a dor dos irreconciliáveis vive aqui. (39)

 

          Para Mário, a dor do irreconciliável é específica, uma dor “sul-americana do indivíduo (...) de incapacidade realizadora do ser moral”, diferente do lamento comunista, europeu, derivado do circuito estrito e racional do iluminismo. No Brasil, “nós é esta irresolução, esta incapacidade (...) uma dor permanente, a infelicidade do acaso pela frente”. Aportadas com as caravelas de Colombo e colocadas para funcionar em chão diverso, as ideologias modernas europeias na América deslizavam (deslizam?), e nesse deslizar, como todo deslizamento, performam uma parcela de descontrole e irracionalidade. O espaço deslizante faz com que o conjunto de normas modernas se sustente com dificuldade, pisando em ovos, fazendo patinar as categorias tradicionais de autonomia, liberdade, direito ou justiça. (40) Para Mário de Andrade, essa dor, sul-americana, específica, brasileira, era outra em relação à dor europeia que sua amiga francesa sentia em sua luta por direitos, operária, revolucionária. A amiga comunista tinha atrás de si a experiência da Revolução Francesa, da Primavera dos Povos, da Comuna de Paris, da Revolução Russa. No Brasil de Mário, cheio de galicismos decorativos, os momentos de acumulação de conflitos de classe que poderiam ter levado à criação de mais igualdade e seguridade social eram cortados por golpes e massacres daquela absolute oligarchie. Golpe da maioridade, golpe da República, massacre de Canudos, golpe do Estado Novo, 1964, Carandirú, Carajás… uma história que ainda preside nossos dias, e assombra. Os golpes se repetiam, e após o golpe de Vargas, Mário de Andrade, demitido, escrevia ao amigo que o indicara para o cargo de diretor:

 

Sacrifiquei por completo três anos de minha vida começada tarde, dirigindo o Departamento de Cultura. Digo por completo porque não consegui fazer a única coisa que, em minha consciência, justificaria o sacrifício: não consegui impor e normalizar o D. C. na vida paulistana. [...] Não me sinto propriamente triste com estas coisas, me sinto especialmente deserto. É uma vagueza, uma vacuidade monótona. (41)

 

 

 

Notas:

(1) Havia também, claro, um movimento contrário, de êxodo, mas em menor escala. Entre 1900 e 1920 por exemplo, saíram do estado 19.933 pessoas, ao passo que entraram 374.250. Entre 1920 e 1940 entraram 697.276. Cf. Graham, Douglas, Hollanda, Sérgio Buarque de. Migrações internas no Brasil 1872-1970(VOLTAR)

(2) Sevcenko, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20, p. 41. (VOLTAR)

(3) Cf. Andrade, Mário de. “O movimento modernista”, Aspectos da literatura brasileira(VOLTAR)

(4) Cf. Anderson, B. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo(VOLTAR)

(5) Candido, Antonio. “Prefácio”, em Duarte, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo(VOLTAR)

(6) Cf. Sérgio Miceli, Nacional estrangeiro, p. 63. (VOLTAR)

(7) Isso do ponto de vista do modernismo que se tornou hegemônico nas décadas seguintes e que não dá conta de uma complexidade artística de época que não se acomodava tão facilmente na oposição entre arte acadêmica versus arte moderna. (VOLTAR)

(8) Andrade, Mário de. “O movimento modernista”, p. 240. (VOLTAR)

(9) Ibidem, p. 239, 240. (VOLTAR)

(10) Mello e Souza, Gilda de. A ideia e o figurado, p. 104 –106. (VOLTAR)

(11) Ibidem, p. 106-107. (VOLTAR)

(12) Andrade, Mário de. Táxi e crônicas do Diário Nacional, p. 159. (VOLTAR)

(13) Martins, José de Souza. São Paulo no século XX, p. 81. “Em São Paulo, o Partido Republicano Paulista estava dividido havia muito tempo. Os dissidentes já haviam sido colocados sob suspeita de conspiração com os revoltosos da Revolução de 1924, coisa que nunca ficou clara. Da dissidência, acabaria surgindo o Partido Democrático, que apoiou a Revolução de 1930”. (VOLTAR)

(14) Reforma do Instituto Nacional de Música (1931). Série Manuscritos, caixa 122, Arquivo Mário de Andrade, IEB/USP. (VOLTAR)

(15) Ambos imigrantes que fizeram carreira no Brasil e ganharam do governo italiano o título de conde. (VOLTAR)

(16) Essa roda de amigos acontecia em um apartamento na Av. São João que Paulo Duarte dividia com Nino Gallo e contava com, além de outros eventuais, Mário de Andrade, Antônio de Alcântara Machado, Tácito de Almeida, Sérgio Milliet, Antônio Carlos Couto de Barros, Henrique da Rocha Lima, Rubens Barbosa de Moraes e Randolfo Homem de Melo, muitos deles aproveitados em diferentes funções no Departamento. (VOLTAR)

(17) Barbato Júnior, Roberto. Missionários de uma utopia nacional-popular: os intelectuais e o Departamento de Cultura de São Paulo, p. 13. (VOLTAR)

(18) Duarte, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo, p. 50. (VOLTAR)

(19) Cf. Raffaini, Patricia Tavares. Esculpindo a cultura na forma Brasil: o Departamento de Cultura de São Paulo (1935-1938), p. 38. (VOLTAR)

(20) Ibidem, p. 35. (VOLTAR)

(21) Sandroni, Carlos. Mário contra macunaíma: cultura e política em Mário de Andrade, p. 75. (VOLTAR)

(22) Duarte, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo, p. 55. (VOLTAR)

(23) Entrevista do prefeito Fábio Prado ao jornal O Estado de São Paulo, 1/03/1936. Republicada em Calil, Carlos Augusto e Penteado, Flávio Rodrigo. Me esqueci completamente de mim, sou um departamento de cultura, p. 66. (VOLTAR)

(24) Revista da Arquivo Municipal, v.19 p. 272, 1936. Transcrito no cuidadoso estudo de Patricia Tavares Raffaini que tem o título elaborado a partir desse trecho: “Esculpindo a cultura na forma Brasil”. (VOLTAR)

(25) Candido, Antonio. “O direito à literatura”, Vários escritos, p. 258. (VOLTAR)

(26) Contradições ligadas a uma visão beletrista e elitista de cultura e à pouca consideração efetiva de uma cultura urbana que se formava com a participação dos imigrantes, que se tornaram parcela significativa da população. Para essas questões, conferir o já citado estudo central sobre o Departamento de Cultura feito por Patricia Tavares Raffaini. (VOLTAR)

(27) Para uma descrição mais detalhada de todas essas atividades ver, entre outros, as publicações de Carlos Augusto Calil e Flávio Penteado (2015), Roberto Barbato Jr. (2004), Patricia Raffaini (2001), Carlos Sandroni (1988) e Flávia Toni (1984). (VOLTAR)

(28) Andrade, Mário de. “O movimento modernista”, Aspectos da Literatura brasileira, p. 242. (VOLTAR)

(29) O Estado de S. Paulo, 21 de fevereiro de 1936, p. 3. Republicado em Calil e Penteado, Me esqueci completamente de mim, sou um departamento de cultura, p. 65. (VOLTAR)

(30) “Minuta da palestra de inauguração do Curso de Etnografia”. [Mário de Andrade, 1936]. Transcrito em Cardim, Vera Lúcia. Contribuições de Samuel Lowrie e Dina Lévi-Strauss ao Departamento de Cultura de São Paulo (1935 – 1938)(VOLTAR)

(31) Ofício de 17 de fevereiro de 1936, Processo 23937, reproduzido em Calil e Pacheco, p. 51. O diretor do Departamento de Cultura estava imerso em uma série de contradições e ambiguidades que marcavam seu lugar social, e a possibilidade de “levar cultura à população” é formulada em chave paternalista. (VOLTAR)

(32) “Clube de menores operários”, separata da Rev. Arq. Mun. 1938 vol. XLVIII, p. 81. (VOLTAR)

(33) Barbato Júnior, Roberto. Missionários de uma utopia nacional-popular: os intelectuais e o Departamento de Cultura de São Paulo, p. 16. (VOLTAR)

(34) A expressão é de Antonio Candido. “Prefácio”, em Duarte, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo(VOLTAR)

(35) Duarte, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo, p. 152. (VOLTAR)

(36) O próprio Mário modulará sua posição política, e na ópera inacabada “Café” o povo praticamente faz uma revolução comunista no palco. (VOLTAR)

(37) Machado de Assis, crônica de 11 de maio de 1888: “Es dürfte leicht zu erweisen sein, dass Brasilien weniger eine konstitutionelle Monarchie als eine absolute Oligarchie ist” [Seria fácil provar que o Brasil é menos uma monarquia constitucional do que uma oligarquia absoluta]. (VOLTAR)

(38) Andrade, Mário de. “Briga das Pastoras”, em Obra Imatura, p. 181, 182. Conto referido em palestra de Ivan Marques no Instituto CPFL Cultura no dia 23/11/2018. (VOLTAR)

(39) Andrade, Mário de. O Turista aprendiz, p.174. (VOLTAR)

(40) Cf. Schwarz, Roberto. “As ideias fora do lugar”, em Ao vencedor as batatas(VOLTAR)

(41) Duarte, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo, p. 158-159. (VOLTAR)

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Bibliografia:

Anderson, B. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. Companhia das Letras, 2008.

Andrade, Mário de. “O movimento modernista”, Aspectos da literatura brasileira. Martins, 1974.

_______. Táxi e crônicas do Diário Nacional. Duas Cidades, 1976.

_______. “Briga das Pastoras”, em Obra Imatura, Martins, 1980.

Barbato Júnior, Roberto. Missionários de uma utopia nacional-popular: os intelectuais e o Departamento de Cultura de São Paulo.       Annablume, 2004.

Calil, Carlos Augusto e Penteado, Flávio Rodrigo. Me esqueci completamente de mim, sou um departamento de cultura. Imprensa       Oficial do Estado de São Paulo, 2015.

Candido, Antonio. “Prefácio”, em Duarte, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo. 2a ed. Hucitec, Secretaria Municipal de Cultura       de São Paulo, 1985.

Candido, Antonio. “O direito à literatura”, Vários escritos. 3ª ed.. revista e ampliada. Duas Cidades, 1995.

Cardim, Vera Lúcia. Contribuições de Samuel Lowrie e Dina Lévi-Strauss ao Departamento de Cultura de São Paulo (1935 – 1938),         dissertação de Mestrado, PUC-SP, 2010.

Graham, Douglas, Hollanda, Sérgio Buarque de. Migrações internas no Brasil 1872-1970, Instituto de Pesquisas Econômicas                   [Brasília] Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, 1984.

Martins, José de Souza. São Paulo no século XX. Imprensa oficial do Estado de São Paulo, 2011.

Mello e Souza, Gilda de. A ideia e o figurado. Duas Cidades/Editora 34, 2005.

Miceli, Sérgio. Nacional estrangeiro. Companhia das Letras, 2003.

Pontes, Heloísa. Destinos Mistos. Companhia das Letras, 1998.

Raffaini, Patricia Tavares. Esculpindo a cultura na forma Brasil: o Departamento de Cultura de São Paulo (1935-1938). Humanitas         FFLCH/USP, 2001.

Sandroni, Carlos. Mário contra macunaíma: cultura e política em Mário de Andrade. Vértice/Iuperj, 1988.

Schwarz, Roberto. Ao vencedor as batatas: forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. Editora 34, 2000.

Sevcenko, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. Companhia das Letras,           1992.

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